Além da guerra às drogas

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Maciel Holanda Sechinato

A atual política de drogas que vivemos está entre as mais mal sucedidas políticas públicas da era moderna. Essa política iniciada por Nixon em 1971 e baseada na proibição e na repressão como solução para o consumo e a venda de drogas, foi alicerçada em conceitos morais e religiosos e ignorou o pouco conhecimento científico existente até aquele momento. A guerra às drogas decretada por Nixon falhou com a promessa de erradicar as drogas do planeta, e mais do que isso: nesse período o consumo de drogas aumentou no mundo todo, houve aumento na produção de drogas, no número de presos relacionados a crimes por drogas, no número de mortos pelo envolvimento com o tráfico, nos investimentos públicos gastos com a repressão, na diversidade de drogas ilegais disponíveis e no fortalecimento do crime organizado, entre outras consequências indesejadas advindas dessa política notoriamente mais lesiva à sociedade do que os males advindos do consumo de drogas.

O tráfico é uma das mais aterrorizantes consequências produzidas por essa guerra, alimentada por um capitalismo puro, sem qualquer tipo de regulação ou impostos, gerando lucros exorbitantes, que são investidos em armamentos, logística, subornos, transportes, e todo o tipo de investimento necessário para superar a repressão do Estado, que por sua vez gasta recursos de extrema necessidade, com uma guerra ineficiente e totalmente sem sentido. Deixamos de dar tratamento de saúde adequado aos nossos usuários e passamos a criminalizá-los, acumulando incontáveis processos de crimes relacionados às drogas atravancando todo o sistema judiciário do país. Ignoramos nossas experiências com modelos de repressão ao escolher a proibição para solucionar os problemas causados pelo consumo e a venda de drogas, a Lei Seca americana e na atual política mundial de drogas, experiências semelhantes foram observadas, ambas vivenciaram um aumento da criminalidade, a criação de organizações criminosas dispostas a conquistar seu mercado com uso de violência, aumento do número de usuários, formas de consumo mais danosas ao organismo, aumento do número de crimes relacionados à clandestinidade desse mercado, aumento nos gastos públicos com repressão, entre outras semelhanças indesejáveis. A dificuldade em conseguir autorização para pesquisar sobre as drogas ilícitas, a falta de interesse do Estado em estudar essas substâncias e a falta de interesse das indústrias farmacêuticas em pesquisar drogas ilícitas naturais, contribuiu para a negligência por meio século do estudo de substâncias como a maconha, (que tem se mostrado promissora no auxílio à luta contra o câncer, uma das mais cruéis e temidas doenças da humanidade).

Acontece hoje  no Leipsi (Laboratório de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos) promoverá no Centro de Convenções da Unicamp, com entrada gratuita, o fórum “Além da guerra às drogas: o desafio de novas políticas para os usos de substâncias psicoativas”. O evento contará com a conferência “Saúde Pública e Política de Drogas”, com a mesa redonda “O panorama interdisciplinar atual das políticas públicas sobre drogas”, “Os desafios e caminhos para superar a guerra às drogas” e, para finalizar, teremos um debate envolvendo três questões polêmicas sobre a maconha: Maconha faz bem? Maconha faz mal? Devemos legalizar a maconha?”. Para maiores informações siga a página do Leipsi no facebook. https://www.facebook.com/laboratorioleipsi

 

*Maciel Holanda Sechinato é psicólogo e secretário do Leipsi